domingo, setembro 29

terça-feira, setembro 24

o paradoxo, a mosca e o di(e)spensar


Papaji diz:

 "A manifestação é um drama cósmico para ser gozado. Só existe brincadeira e ela mesma nem é existente. O que quer que seja que você pense, nisso a brincadeira se transforma."
 
As pessoas gostam de acreditar que existe uma razão em existir, e que estão acumulando coisas e conhecimento. Elas vivem numa espécie de sede por um sentido de existir – até porque, sem isso, não haveria razão para trabalharem oito horas por dia. Essa é uma maneira de suportar a bobagem em que estão metidos, mas não tem o menor sentido. Prenda uma mosca num copo e observe. Veja se há algum sentido.
 
Tudo é uma grande brincadeira – e ela se torna qualquer coisa que você pensar. Você pensa que a vida é difícil e quer que seja fácil, mas se olha para a vida como algo muito difícil, é impossível conversar com você sobre a simplicidade das coisas.
 
Então, tenha muito cuidado com o que pensa – você deve sempre dispensar o que a mente propõe. Não siga a sua mente, ela é um touro endiabrado que pensa e deseja coisas que não fazem o menor sentido. Não siga a sua mente, fique quieto!

sexta-feira, setembro 20

nem eu, nem você: isso!


Não existe o outro, tudo é você. Então, colocar-se no lugar do "outro" gera consequências muito elegantes, necessárias e incrivelmente revolucionárias.

Lao Tzu, que tinha umas ideias bem rocambólicas, praticamente inaceitáveis para o padrão mental da época e atual ­– por mais sofisticado que você pense que seja o padrão mental ocidental contemporâneo –, disse algo que considero uma pérola: "Onde há justiça não há compaixão". Contemple.

Justiça é quando você julga o outro. Compaixão é quando você não julga o outro. Quando você julga o outro cria um karma, existe uma lei de ação e reação: quando julga o outro você será julgado. Quando se compadece, colocando-se no lugar do outro, você resolve internamente.

O problema está em pensarmo-nos separados uns dos outros. Nos vemos separados, nos sentimos separados, e é dificil convencer o nosso sistema neurológico do contrário. Aliás, ver a não-separação não é uma questão de convencimento, é a suprema compreensão, é um dar-se conta, absoluto. De repente, é vista a ilusão da separação, colocam-se os pingos nos 'is' e o outro deixa de existir. Você deixa de existir como imagem.

O que corrompe as relações humanas é a mente, e a mente é plena inconsciência. Na medida em que começa a ver como ela se move, você se antecipa. Você aparece e ela não mais está, assim como a luz diante da escuridão. Consciência está presente. 

quinta-feira, setembro 19

consciência do não-livro: você


O que é isso?

Participante ­­­– Um livro.

E é assim que tudo começa... Agora eu te pergunto: quem foi que disse que isso é um livro?

Participante ­­­– Não sei.

Alguém disse ou você ja nasceu sabendo? Quando a sua mente diz "livro", olhe para isso com certa parcimônia. Não deixa de ser uma informação util, mas essa não é a verdade.

Na medida em que começa a investigar os conceitos da sua mente, pode ver que a grande maioria das informaçoes que você emite são de um completo desserviço ­­­– um desserviço para si mesmo.

Portanto, estamos aqui em nome de uma investigação precisa a respeito de quem você é. Desfazer o engano é fundamental. Existe uma capa de mal-entendido que impede o acesso direto a realidade do Ser, ao Silêncio que você é. Quando essa capinha é destruída, um novo movimento acontece – você se volta para dentro e, dentro, o livro não é um livro. Tudo é você. Tudo é Consciência. 

quarta-feira, setembro 11

deleite observativo, la crème de l'enfer e o enraizar-se em nuvens

Quando há deleite na Observação, nasce, simultaneamente, o desinteresse pelas contrações corporais, emocionais e psicológicas – toda a carga mental, que é o crème de la crème do inferno.

Satsang chama a nossa atenção para o Silêncio e o deleite de saboreá-lo como nossa natureza. Trazendo para um contexto prático: isso significa que o que quer que seja que esteja acontecendo, o que quer que seja que você esteja sentindo, não é você. Você é consciência. Pura. Incorruptível.

Portanto, não se debruce sobre o que você está sentindo. Veja. Observe. Deixe passar. Aliás, isso é o que acontece. O convite está pautado no deleite de habitar a essência dessa realidade, ao invés de viver enraizado em nuvens transitórias.

Você está apaixonado? Ok. Apaixone-se! Mas observe a transitoriedade dos acontecimentos. Não leve muito a sério. Aliás, não se leve a sério. Sua raiz está no Silêncio permanente, na Observação inerente. Isso é você! Não aceite nenhuma outra descrição, assuma essa como a sua realidade.

quarta-feira, setembro 4

a estátua, o bêbado e o touro

Participante – Eu noto que a linguagem confunde. Ora "eu" se refere a quem eu sou, ora ao equívoco.

A quem ela confunde?

Participante – A confusão está na mente.

Então deixe que esse seja um problema dela! Quem é você? Quando a pergunta é feita, tente alinhar e corrigir qualquer possibilidade de equívoco. Não há confusão em quem você é. E é por isso que, de certa forma, reitero que os acontecimentos não são importantes.

Mesmo quando você diz: "Preciso meditar". Veja: quem está meditando? Preste muita atenção! Em alguns casos, é nítido ver algo como um personagem se tornando uma espécie de estátua de pedra. Você não é isso, você é a consciência disso. E, no frigir dos ovos, no seu despertar, não tem importância se você está parecendo um buda de pedra ou um bêbado. Ambos são acontecimentos na Consciência que você é.

Uma ótima ilustração descreve isso nos "Dez touros Zen", de Kakuan. Depois de ter passado por todo um longo processo de busca, o monge volta para o mercado público com uma garrafa de vinho nas mãos. Uma vez visto, não há mais confusão.

terça-feira, setembro 3

com ciência da impermanência

O que quer que seja que esteja acontecendo, quer a mente concorde ou não, é o que está posto. O único ponto é: você é o acontecimento ou a consciência do evento? É muito simples! Por hábito e inconsciência, você tem chamado de "eu" algo que não é você.

Estamos aqui para esclarecer este equívoco e migrar para o lugar certo. Veja: quando uma dor de barriga surge, você está consciente dela. Você não é a dor, você é aquele que está percebendo a dor em ocorrência. E o mesmo pode ser aplicado a completamente todos os eventos – não somente os desagradáveis, pois nem mesmo o êxtase é você. Você é a observação. Pura. Simples.

Não adote esta como mais uma crença, examine. Veja! Quem é você? Ao retomar a percepção de que você é a observação, os eventos se tornam muito mais leves. Tudo passa. Assim como as nuvens, ainda que num dia cinza e aparentemente denso, tudo passa.

Quando a mente propõe que você ou qualquer outro alguém seja um escroto, pare e veja. Você é a observação desse acontecimento. Lembre-se que você aprendeu a chamar de "eu" algo que não é você. O que você pensa e sente não é você. Sua mente e seu corpo não são você, são eventos. E todos os eventos são impermanentes.

A Observação – que é a sua natureza –, sim, permanece apesar de tudo o que aconteça. Por isso, saiba, isso que você chama de "eu" não vai a lugar nenhum. Relaxe.