terça-feira, março 26

quer queira, quer não: isso!


Observe: que perfeição você está almejando? Que perfeição é essa que colocaram na sua cabeça que você tem que encontrar? Essa perfeição não existe, ela é o seu único sofrimento. Você está tentando ser uma coisa que você não é. E é matematicamente impossível ser o que você não é. Você só pode ser o que você é, então pare de tentar ser algo que você não é.

Mas aí, diante de tal proposta, a mente reluta ao se deparar com um grande problema – apenas para ela. Pois tudo o que você tem feito, tudo que o identifica como uma pessoa, tudo aquilo que constrói a sua imagem de si mesmo, cai por terra, diante da Visão proposta em Satsang.

Na verdade, até mesmo a imagem do "buscador" há de ser entregue nesse fogo. E já pensou quanto investimento será queimado junto? Quantas tentativas e devaneios de crescimento... Tudo desaparecendo como fumaça.

No entanto, em contrapartida, ao contrário do que a mente pensa, ao contrário dessa noção egóica de que sua vida depende da sua mente, estamos aqui abrindo a possibilidade de que você possa descansar exatamente aqui, exatamente agora – onde você está, do jeito que você está, sem precisar mudar absolutamente nada, sem precisar chegar a lugar nenhum. Isso não é fantástico?

Tudo está perfeito do jeito que você é, nada precisa mudar, você é a imagem e semelhança da Consciência – que, por sua vez, é tudo. Isso para não dizer, a priori, que você é a própria Consciência, aqui e agora, quer você queira, quer não, quer você saiba, quer não.

Muitos já tentaram revelar isso e estou aqui tentando fazer o mesmo. Mas confesso que vejo grandes dificuldades. Teria sido muito bom que você pudesse ter resistido da mesma maneira em acreditar que você é o corpo, a mente, o nome, o tempo... Disseram que você é tudo isso e você simplesmente acreditou. Agora, tento mostrar que você é o Buda e você resiste, reluta contra essa Realidade. Uma luta perdida, cem por cento das vezes.

sexta-feira, março 22

uma dose de lucidez diária


A luz que você está buscando, vem de dentro. É voltando-se para si mesmo que você emana essa realização. Não busque na mente, não busque no corpo. O corpo é uma colônia de  bactérias e a mente é um templo de besteiras. Salvo algumas poucas palavras e meia dúzia de funções, tudo na mente é bazófia! 

Realmente vale a pena chafurdar nessa confusão que você chama de "você"? Remova a confusão e fique somente com o "você" puro – no mais simples e brilhante que há – um organismo redondo, que dorme, digere, evacua, sem nenhuma necessidade de interferência. Por si e em si.

Aceitar o que é, é o mesmo que ver que não tem "você". Somente quando não tem "você", existe aceitação. O "eu" – que se pensa – não tem a capacidade de aceitar, pois ele mesmo é puro conflito. Ilusão. 

Aceitação não é um ato, aceitação é a sua natureza em expressão. Por isso, descanse no seio do seu centro, descanse naquilo que você é, e veja a luz da aceitação resplandecer de dentro. 

Deixe de lado qualquer necessidade de exclusão ou inclusão, deixe as histórias de lado, abandone o ontem e o amanhã. E ajude os seus a realizarem o mesmo. Como disse Nisargadatta: "Você veio ao mundo chorando. Agora, pelo menos, saia dando risada". 

Não tem para onde ir. Não há em toda a História aquele que tenha saído vitorioso. A única chance de sair vitorioso é vendo a pequenez da mente em ação e resistindo à tentação de seguí-la como mestre. Pare de lutar, tome uma dose de lucidez, solte a mochila e "volte para casa". Relaxe. Aprenda a morrer um pouco a cada dia – isso é aceitação. 

quinta-feira, março 21

acorda: hora da aula, senhor diretor!


Uma mudança de paradigma é o que está sendo exigido agora, pelo menos.

Mais ou menos as onze horas da manhã, o pai chega e bate na porta do seu filho:

    – James, acorda! Você tem que ir para a escola.

    – Ah, pai! Não quero ir.

    – Mas, James, está na hora. Você precisa ir!

    – Pai, eu não quero! É muito chato. Eu odeio escola! E não aprendo nada lá.

    – James, você tem que ir para a escola! Primeiro: é o seu dever. Segundo: você tem quarenta e cinco anos de idade. E terceiro: você é o diretor! Acorde!

Você também não quer ir para a escola? Look: você é o diretor! A mudança de paradigma aponta justamente para este fato: aquilo que você pensava que era, se colocado de lado, uma outra proporção será dada à vida.

Mas o que acontece é que você não coloca a mentira de lado. Você põe um pouco e olha para ver se vai ficar tudo bem. O que você quer é ter lucro no final, o que você quer é que tudo fique bem – mas este "bem" é enredo da própria mentira.

A vida não tem como ficar bem. A vida é a vida. Ela não pode "ficar bem", porque ela está além das nossas idealizações. Ela não tem nem notícia de como você gostaria que ela fosse e também não tem como avisá-la. Ela acontece por si mesma. Portanto, Wake up!

quarta-feira, março 20

o cabide, o saco de arroz e o bindi na testa


Há muito tempo atrás, havia um mestre chamado Gettan. Dele veio essa história bem Zen. Apesar de relatar um contexto ininteligível para a atual cultura, compartilho mesmo assim. Se puder ouvir com seu coração, irá compreender claramente o que ele quis dizer.

Ele diz: "Existem três tipos de discípulos: aqueles que promovem o Zen, aqueles que mantêm os templos, e os que são sacos de arroz e cabides de roupa". O terceiro é o mais comum. É aquele que só enche a barriga de comida – por isso o saco de arroz – e se move como um mostruário. Incrível que ele tenha sacado isso há mil e tantos anos atrás, quando nem tinha Fashion Week, não é mesmo?

O que acontece é que ele se deu conta que ali haviam os discípulos que só comiam e carregavam uma roupa sobre o corpo, aqueles que ajudavam a manter o ambiente e aqueles que promoviam o Zen.

Obviamente, em certo momento você para de ser qualquer um desses tipos, e nenhum deles importa, mas – até que isso aconteça – veja onde você se encontra. Como existe na mente um estado ilusório de ser, o tempo todo você está migrando de um tipo para o outro. Volta e meia você cai nas armadilhas da mente, e volta. Cai. E volta.

É por isso que a simplicidade proposta em Satsang deve ser acessada e mantida corajosamente no seu coração – ou o mais próximo a ele que você puder. E é também por isso que aos mestres é dada uma dose infinita de compaixão. Ele está a sua espera. E de novo, e de novo, compartilhando o mesmo.

Portanto, você pode até pensar que sou mais um terapeuta que vai melhorar a sua vida, mas eu não estou interessado nisso. Todo o meu interesse está em despertá-lo para quem você é. Isso! E – já que você está aqui –  o convido a absorver este como o seu maior interesse também.

Não há absolutamente nenhuma outra coisa que importe mais do que acordar para quem você é. E eu sei que este é um diálogo difícil de ser empreendido, porque é terminal, porque a mente pensa que entendeu tudo. Mas, quer saber? Pouco importa o que a mente entende. Trazendo Gettan para o nosso contexto, note se você está simplesmente vestindo um novo uniforme, aderindo à moda das "batinhas" indianas e usando um bindi no "terceiro olho" ou se você dá suporte à proposta de entrar verticalmente na descoberta de quem você é.

segunda-feira, março 18

se não aqui, se não agora


















No encontro consigo mesmo, paciência é um ingrediente fundamental. Se a sua mente teve grande poder sobre a sua vida até esse presente momento, e teve, o acidente de estar ouvindo Satsang vem a ser um portal para ir além.

É certo que a mente não quer que isso aconteça e é por isso que há certa resistência. Portanto, esteja atento: de um lado, paciência. Do outro, paciência também. Quem propõe grandes metas é a mente. É ela que quer sempre estar em algum outro lugar que não o aqui e em algum outro momento que não o agora.

Aliás, é a mente que propõe que Satsang – assim como tudo o que existe – organize-se em um sistema de pensamento, um método de vida. Ela não se satisfaz com a simples proposta de que você já É aquilo que você está buscando – você já é a vida, em si – e é por isso que se torna impossível gerar qualquer sistema sobre isso.

Estamos diante de um mistério. Um mistério que dissolve todo o equívoco que tem sido agregado como sendo você, como sendo a realidade. O equívoco é a prisão que provoca o sofrimento. Satsang, o encontro com a Verdade, é a chave da suprema Liberdade. 

sexta-feira, março 15

o coração além do coração


Há muito tempo atrás – bastante tempo – eu não estava me sentindo de bem com a vida. Eu pensava: "Não pode ser só isso. Tem que ter algo mais. O que está faltando?" E abriu-se, ali, sem nenhuma razão aparente, um caminho, um chamado.  O chamado foi de tremenda simplicidade – e talvez por isso eu não o tenha atendido, primariamente.

O que vou dizer agora não é de um todo preciso – por isso, perdoe-me –, mas vem a elucidar o momento: a partir daquele instante, é como se eu tivesse passado por uma grande preparaçãopara ser eu mesmo. E levei tudo isso muito a sério!

O que ficou claro é que tudo o que eu fiz não me levou a nenhum lugar proposto pela minha mente. No final, o que encontrei foi Eu mesmo – e esse eu não é nada do que eu pensava.

A compreensão se deu em perceber que aquilo que eu estava buscando era aquilo que estava buscando. O fato é que, a partir daí, uma nova perspectiva surgiu; de tal maneira que hoje falo uma outra língua. Parece Português, mas não é.  E o melhor dessa nova língua é que não tem "quem" a compreenda. É preciso deixar de ser "alguém" para Ver.

Deixe-me explicar de outra maneira: a mente é mau entendedor. Dessa linguagem, o coração é um bom entendedor. Porém, mais fundo, deve ser percebido que a compreensão vai além até mesmo do coração. Olhe agora e veja onde você se encontra: se na mente, no coração ou além do coração. De onde estou olhando, você está além do coração.

A mente tenta compreender o que ela não pode compreender. Na verdade, a mente não consegue nem mesmo "entender" – e aqui faço um paralelo entre "compreensão" e "entendimento". A mente não entende. O coração, sim, é capaz de entender – é por isso que, para começarmos o nosso diálogo, o coração deve estar presente. Mas, ao final, além de tudo, a compreensão emerge do Ser, que reconhece a si mesmo.

quinta-feira, março 14

satisfação plena sob a tela dos sentidos















No agora, toda ação imediata é guiada pela atenção. Com isso, novas sinapses são formadas no seu cérebro. Quando a atenção é prioritária, novas sinapses – e, com isso, novas maneiras de se relacionar com os objetos – se estabelecem. Na verdade, se trata de um retorno. Esta é a dimensão por trás do mundo da mente, por trás do sonho.

O mundo todo segue numa mesma direção, agindo da maneira que foi programado a agir. Prove a essência do agora e veja que, imediatamente, se abre a possibilidade de um novo “você”, livre dos moldes provenientes do passado ou projetados no futuro.

Se chegou até aqui, se te interessa, a única maneira de acessar este ambiente é indo para dentroDentro, o que te guia não são as tradições ou os condicionamentos não-investigados. Dentro só tem o agora e o agora é uma aventura. No agora há satisfação plena sob qualquer que seja o movimento na tela dos sentidos.

Veja! Sempre que você se abre para o agora, ele se abre para você. E é criando intimidade com essa abertura que você pode estar no mundo de uma maneira desperta, livre. Em paz.

quarta-feira, março 13

a límpida não-humanidade do agora

















É, definitivamente, necessário sair do ambiente do senso comum, do mundo dos clichês, para compreender puramente a proposta que Satsang nos traz. As pessoas dizem que você deve ficar mais consciente ou que você deve ficar no aqui e agora... Veja! Sem subir – ou aprofundar – o seu nível de entendimento, você estará eternamente enredado em confusões mentais. A minha proposta, às avessas, é: tente sair do aqui e agora. Onde mais você pode estar, senão aqui, agora?

Em algum momento você terá que resgatar aquilo que está antes de qualquer concepção – seja ela qual for. Volte-se para isso e você estará livre, inclusive da humanidade – nesse novo ambiente, você não é mais um humano, é sobre-humano. Agora sua visão está límpida. Não existem deduções nem repetições a respeito de quem você é.

Trata-se de uma higienização mental. Osho brincava com isso... Ele dizia: “Querem saber se estou fazendo uma lavagem cerebral em vocês? Sim, estou. Vocês chegam aqui com a cabeça cheia de bobagens e eu os ajudo a limpar”. Então, é isso! Não se engane. Uma vez que o que você deseja é saber quem você é, não é possível manter o velho mundo, o mundo das repetições.

Pare um pouco e abra a porta do novo.  Mas, antes, saiba: o novo não cabe dentro da mente. Estamos falando do mundo além das concepções. 

segunda-feira, março 11

a repetição cega, o papagaio e o ver


É fundamental dar-se conta a respeito dessa questão: como a mente pode tornar-se consciente – ou consciência –  se ela é um mecanismo de repetição? Você não acha que está exigindo demais? Consciência, à Consciência. À mente, repetição. Note que, como um papagaio, ela simplesmente repete tudo o que viu e ouviu, tudo que aprendeu.

Você viu como a sua mãe reagia a um determinado acontecimento e, pronto, logo se estabeleceu o seu modo de reagir aos casos similares. Sem a menor brecha para uma nova possibilidade, sem qualquer investigação, você simplesmente repete, vive o mundo ditado pela mente.

Existe, claro, zonas mais sofisticadas deste mecanismo chamado "mente", tais como a matemática, a lógica e um certo nível da poesia, por exemplo. Mas, dentro da mente, tudo depende  da repetição básica do conteúdo, sem conteúdo nada pode vir a ser gerado. Portanto, não se engane e – principalmente – não exija da mente aquilo que não compete a ela lhe oferecer. Ver não lhe compete.

Você almeja uma mente consciente porque todo o seu mundo, tudo o que você conhece, é a mente. Salte fora dela – aliás, deixe-a em paz – e encontre a Consciência desperta, dentro de você. Comece por descobrir onde fica o dentro e os passos seguintes serão dados naturalmente, sem esforço algum. Sem mente. Veja!

sexta-feira, março 8

in consciência infinita


Participante – Tenho uma questão... Se eu ando numa rua, tropeço e caio, posso refletir que caí porque não estava consciente do meu andar? Há um tempo atrás assisti a um vídeo de Osho, em que ele dizia que toda tragédia, que todas as atrocidades humanas dependiam muito das ações inconsciente. Minha pergunta é: se eu tropeço e caio, foi em função da minha inconsciência ou estava escrito que eu deveria tropeçar e cair?

Estamos lidando com uma moldura de mente que é universal e, particularmente, inconsciente. Então, se todo o seu entendimento for fundado em cima dessa inconsciência, devemos concordar que você não pode ir muito longe. Portanto, vejo que essa sua pergunta é baseada em clichês, e não na  visão consciente de quem você é.

A princípio, gostaria que você se desse conta que Osho não é infalível, ele nunca propôs infalibilidade. Então as vezes o seu discurso atende em termos gerais, nivela por baixo, para que se torne acessível a uma maioria – o que foi de grande valor. Mas vale a pena você ir mais e mais fundo e encontrar, inclusive nele mesmo, a resposta para a sua pergunta.

Se você descola das palavras e fica com a presença que ele evoca, isso te faz refletir de uma maneira diferente a respeito da sua questão. Pois toda a comunicação é falha. E reforço: "toda". Por isso a proposta é que você assuma a responsabilidade pela investigação direta, consigo mesmo. Osho e todos os mestres são setas apontando numa direção, para dentro de você. Você pode seguir e encontrar, ou não. Sem assumir você mesmo a investigação direta daquilo que está sendo apontado, você fica preso na gaiola da sua mente, naquilo que você aprendeu.

Você me pergunta, na verdade, se aquilo que está acontecendo nesse momento da sua vida está acontecendo porque é seu destino passar por isso ou se você está passando por isso porque está inconsciente a respeito de quem você é. Este é um dilema que todos têm. E eu tenho para te dizer, nesse momento, que se a pergunta apareceu, se há a dúvida, então pode que haja inconsciência.

Agora, se você quer saber se a inconsciência pode gerar ações, a minha resposta é "sim". No entanto, estou muito curioso para saber o que você quer dizer com "inconsciência".

Participante – É eu não saber o que estou fazendo.

Isso significa que você imagina que haja um estado em que vai saber tudo o que você está fazendo. E é aí que está o engano. O corpo e a mente têm limitações. E dentro dessas limitações cabem alguns tropeços. Porém, o que deve acontecer é o seu deslocamento da identificação com aquele que tropeça para a identificação com aquele que Observa os acontecimentos. Se você é aquele que vê o tropeçar acontecer, que diferença faz a sua origem? O corpo vinha caminhando, o corpo tropeçou, o corpo se aprumou novamente, o corpo tornou a caminhar. E você simplesmente Observou todos esses movimentos acontecerem. Isso é Observar. E, na Observação, nada está acontecendo. Desapaixone-se pelos acontecimentos e entregue-se à Observação, infinita, aqui e agora.

quinta-feira, março 7

desencobrindo o que já é


Pondere: o que você está buscando? Isso é extremamente importante. É "Deus" o que você quer? Paz? Se você está buscando uma melhor forma de se relacionar, por exemplo, sinto muito, mas não posso ajudar – não da maneira que você gostaria que eu ajudasse. A única coisa que posso te convidar a fazer é olhar para o lugar certo, olhar para dentro.

Para um bom começo de conversa, "aceitação" está em pauta. Porém, este é um ponto que exige muita atenção e discernimento. Porque "aceitação" não significa aceitar a ignorância imposta pela sociedade, pela escola, pela família ou por qualquer que seja o sistema.

Sucumbindo aos limites, às fronteiras geradas pela mente, a chance de repousar no agora é ínfima. Apesar de não ter como sair do agora, uma vez que você não investigue certos dogmas – equívocos –, irá viver em ignorância, sem acesso à liberdade que está implícita na "des-coberta" de quem você é. 

quarta-feira, março 6

objetos, nenhum: adoráveis


O verdadeiro amor não tem oposição. O verdadeiro amor, na verdade, não tem objeto. Eu sei que é uma improbabilidade que isso seja dito para uma grande massa, que isso seja inteligível à grande maioria, mas estamos aqui para burlar o senso comum.

A verdade é que, por não ter objeto, todos os objetos se tornam adoráveis – o que gera um problema social, muitas vezes. Se ainda não notou, está em tempo de perceber que uma revolução cultural está se aproximando. Ela é necessária. Existe tremenda disfunção nos modelos antigos.

Chamamos de "primitivos" aqueles que não tem TV, sistema de saúde, automóveis... e olhamos para eles a partir daquilo que eles não têm. No entanto, ignora-se que tampouco eles tinham a doença. A doença foi inventada – e é constantemente reinventada – pelo assim chamado "progresso".

A nossa sociedade foi condicionada como uma sociedade doente. E, como se não bastasse, propagamos a doença – o homem branco leva a nova gripe ao índio, que morre. Você quer se adequar a isso? As relações humanas, assim como você as concebe, estão previstas dentro de um quadro – limitado, diga-se de passagem.

Tente sair desse quadro e veja. Você pode vir a ser julgado e, quem sabe, condenado. Mas, se quer a minha opinião, eu realmente desejo que você seja condenado à Liberdade de ser quem você realmente é. Resgatar a sua verdadeira natureza é a única meta que deve ser mantida. E não há a menor chance de que, pautado no Ser, alguma outra coisa possa ser vista ou compartilhada que não o verdadeiro amor. 

terça-feira, março 5

você sem boca, os olhos sem você


Sim! É certo que o seu corpo tem ouvidos, olhos, nariz, boca, cabeça, ombros... Mas é você que tem ouvidos, olhos, nariz e boca? Investigue! Na quietude, na presença do Silêncio, note que você não tem ouvido, nem nariz, nem boca... Na verdade, não tem "você". 

O Silêncio é impessoal e extremamente sutil, por isso que é difícil percebê-lo – pois só lhe foi ensinado a perceber o mundo do ponto de vista da "pessoa". Ficando mais quieto é possível acessar. Está presente, mas não está preso, não está localizado em lugar nenhum. Está sempre Aqui. 

Ser você, assumir a sua natureza, é muito delicado e, ao mesmo tempo, é imperdível. Não importa no que você esteja pensando, nem em qual emaranhado mental você se perca, a verdade é que você nunca sai de onde você se encontra.

"Meu filho", "meu emprego", "meu relacionamento" são descrições mentais a respeito de objetos que não são seus. Em Satsang, o que acontece é que você perde os problemas indo à raiz. Você pode insistir em livrar-se dos problemas, mas – uma coisa é certa – só tem uma maneira realmente eficaz: livrando-se do "eu". Esta é a raiz. Portanto, livre-se do "eu" e aproxime-se do impessoal. 

segunda-feira, março 4

a redundância, o verde e o azul


Participante – Satya, quando você abre espaço para que façamos perguntas, percebo que eu poderia formular alguma pergunta, porém isso envolveria a mente e a mente é muito barulhenta. Então, prefiro repousar no silêncio do observador.

Que fantástico! Você diz: "A mente é muito barulhenta". E eu não posso deixar de perguntar: Se você faz uma afirmação a respeito de algo usando a mente, ainda que diga que "a mente é muito barulhenta", em realidade, onde você se encontra? Onde você está repousado nesse instante?

Dê-se conta de que não existe absolutamente nenhum evento que ocorra na ausência do observador, da observação. O que está acontecendo é apenas um equívoco da mente, que propõe que quando ela está, há barulho e, com isso, não há silêncio. Isso é uma falácia! Não consuma esta inverdade. 

Você é sempre – sempre! – a observação. Se a mente está barulhenta, o que isso tem a ver com você? Se você se dá conta de que a mente é barulhenta, assim como o céu é azul ou as árvores são verdes, pondere: o que você tem a ver com isso? 

Em quietude, apenas há a observação da mente sem adjetivo algum.. A propósito, "mente barulhenta" é uma redundância. Veja a mente e não faça nada com isso. Remova o "barulhenta", pois este já é um produto da própria mente – e você o está consumindo como verdade. 

Há um julgamento que diz "mente barulhenta" e isto não passa da própria mente entrando, disfarçada, pela porta de trás. O mais relevante aqui em nosso contexto é ver que mesmo diante do barulho da mente há a quietude da observação. Estamos abordando algo muito sutil. Não é para quem está passando é para quem para. Portanto, pare, fique quieto e ainda mais quieto – e saiba. 

sexta-feira, março 1

o luxo do simples e o avesso do desejo


Veja: do quê a Consciência precisa? Muito embora ela tenha criado o mundo, o corpo e a mente para seu deleite, a Observação que você é não precisa de nada. Aliás, necessidade e desejo são o oposto da observação.

Quando passamos a observar, vemos que muito pouco é necessário. Não precisa ser muito inteligente, rapidamente é visto que correr atrás de mais e mais coisas é muito mais problemático do que ter menos. A vida é muito mais simples do que estão nos apresentando por aí.

De verdade, do que você precisa? Um prato de comida e um cobertor já estão de bom tamanho.  Definitivamente, você não precisa comprar todas as latas que o sistema oferece.

A brincadeira é elevar-se a um ponderado nível de sofisticação ao mesmo tempo em que o nível de necessidades fique próximo ao zero. Isso é puro luxo! Não será oferecido à grande massa, muito embora fosse fantástico que mais pessoas pudessem ver e viver isso. Mas a massa é carente e é para ela são criados os enlatados. O que está sendo oferecido em Satsang é muito exclusivo. Veja se é isso mesmo o que você quer.

Nós não estamos aqui para ajustar os seus relacionamentos, pode até ser que eles sofram um desajuste. Para ajustar relacionamentos existem psicólogos, conselheiros, padres... Satsang nos convida a ver que a vida é por demais simples, que o amor não tem oposição. Se é criada alguma oposição, é por uma necessidade do ego. O verdadeiro amor não tem oposição porque não tem nada fora dele.