quarta-feira, janeiro 30

a vida, sendo, impessoal


















Você pergunta: “Por que me envolvo ainda nas pernósticas arapucas propostas pelo ego?” E a resposta é muito simples. Primeiro encontre quem é esse “eu” que se envolve nas arapucas e logo saberá a razão das arapucas do ego serem tão apetecíveis.

Veja: é tenebroso para esse tal de “ego” frequentar ou até mesmo conhecer um estado não problemático de ser, um estado sem perguntas, um estado sem respostas, um estado silencioso de ser, um estado de "ser ninguém" de ser.

Sua atenção foi condicionada a ter como centro este pequeno ponto a quem coisas acontecem, desacontecem, deveriam acontecer ou não deveriam estar acontecendo. Nunca está em pauta o esquecimento. Não faz parte da nossa cultura, de nenhuma maneira, desfocar do pequeno-eu.

Se você se torna um pouco cruel com o seu ego, se você não o oferece a um ambiente de confiança, ele desaparece, ele perde a sua aparente consistência. Só existem, necessariamente, duas alternativas: ou você se submete ao conto da mente, em relação a este objeto chamado ego no tempo, ou você dirige a sua inteligência para dentro do agora, do silêncio.

Mas eu ouço a sua mente retrucar: “Eu não posso viver assim”. Sim, ela não pode viver assim. Porque se você entrar no silêncio do agora, se você aceita o convite do silêncio como realidade, a mente vai se mudando, pouco a pouco, para o seu ambiente funcional. Este é o ambiente da dissolução do ego. E nesse ambiente há um viver sem sujeito – no sentido mais objetivo da palavra. Agora, apenas há a vida, sendo, impessoal.

segunda-feira, janeiro 28

super-poderes e a iluminação do ego


















O que é iluminação? Você já parou para pensar a respeito disso? Existem milhões de descrições, mas a mais comum, a mais aceita é que iluminação seja an egoless state – um estado sem ego, ou seja, você sem você.

Mas o que é muito curioso é que a maioria de nós não parou para investigar: quem é que está em busca deste egoless state? Investigando, mais cedo ou mais tarde, você verá que é o próprio ego que busca chegar num estado sem ego. O que gera um enorme problema e uma absoluta impossibilidade.

É comum que iluminação seja vista como uma espécie de estado que possa ser acoplado ao ego, como um cinto de utilidades carregado de super-poderes. Mas isso não passaria de uma extensão do ego. No entanto, ao se deparar com essa realidade, o ego se mantém enraizado em si, firmemente interessado no cinto de utilidades.

O fato é que o ego não está interessado no seu desaparecimento, mesmo quando diz que está. Poeticamente você até arrisca dizer que está cansado de si, mas quando a forca é apresentada, ou a espada do samurai, o ego salta e declina o cansaço anunciado. “Quem sabe mais tarde?” – é o que ele passa a dizer.

Diante da espada, o ego tece todos os tipos de argumentos para evitar o confronto. Ele questiona até a respeito do fio da espada, para não se entregar. E logo se segue o encantamento com o falacioso cinto de utilidades. Aliás, prorrogação é um dos artifícios do ego. Note: sempre que houver prorrogação, o ego, o falso você, há de estar metido na história.

Este estado – que não é um estado – de ser sem ego só é possível agora e para ninguém. E o agora não é uma adição ao ego. O ego é encontrado, indubitavelmente, no tempo, nunca no agora. Portanto, relacionar-se com o tempo é viver o mundo do ego. Abrir-se para o agora é repousar na imensidão inocente de ninguém, an egoless dimension, sem eu, sem você.

sexta-feira, janeiro 25

não-coisa, o indefinível tao















Tao é um nome que indica sem indicar, que define sem definir. Eu tenho falado de consciência e tenho falado de silêncio. Mas silêncio não é um objeto e quero que você veja isso. Senão você vai continuar perdido entre o silêncio-objeto, aquilo que é apontado pela mente como sendo silêncio, a ausência de ruídos, o que exige uma enorme necessidade de que tudo a sua volta esteja imóvel – que é uma impossibilidade –, e o silêncio-real, que está por trás de todas as coisas, embaixo de todos os ruídos.

Quando os convido a se ausentar um pouco, parar um pouco e ficar em silêncio, esse movimento tem apenas um objetivo: focar no silêncio, tê-lo como pauta e, por fim, encontrá-lo enquanto resposta para a pergunta “quem sou eu?”. Isso é o Tão, aquilo que define sem definir.

No silêncio revelado em Satsang, você não é uma coisa, você é uma não-coisa – no-thing – nada. Não há algo a ser aprendido, no entanto se você souber, se você se der conta que a resposta está além do silêncio o de barulho, você aprendeu o que precisava.

Não há exigência nenhuma em sentar em silêncio, tanto quanto não há nenhuma alusão ao barulho. Simplesmente não há exigência alguma – e é nesse ambiente que a mente desaparece, porque ela não sobrevive diante dessa falta de necessidade, dessa falta de metas, na ausência de movimento.

O Tao é intocável. Aquilo que você é, é intocável. E “silêncio” é o nome que indica sem definir. Nada é definido quando digo “silêncio”, perceba-o como um indicativo. Você ouve e, de repente, percebe que uma luz se acender. Portanto, não tente encontrar, lembre-se: não há metas. Não tente compreender, realize: você é o indefinível. 

quinta-feira, janeiro 24

o milagre de olhar para dentro
















Relacionar-se com a complexidade e truculência da mente causam o inferno neste exato momento da sua vida. Saltar fora disso, estar atento ao engodo, perceber as artimanhas da mente, te põem repousado no paraíso – além do mundo da mente. De verdade, aqueles que estão dormindo, que estão embutidos no mundo, completamente desavisados a respeito da realidade além dos sentidos, só são capazes de gerar confusão e complexidade. Esta parece ser a moeda de troca, de sobrevivência, de manutenção.

Por isso renovo o convite: dirija-se ao centro e permaneça com essa chama acesa. Não perca a cabeça. Ou melhor, perca-a. Seja menos uma “cabeça” em ação no mundo. Volte-se para o centro e veja que ele permanece intacto, inviolável. Somente ele permanece puro, todo o resto está corrompido. Não apenas perceba o centro, dedique-se a torná-lo o seu ambiente natural, porque assim é. Ao invés de visitá-lo de vez em quando, mude-se para este “lugar” onde a mente não tem voz, e a partir disso esteja no mundo. Na verdade, é a partir disso que nasce o novo mundo – inalcançável aos olhos da mente. O verdadeiro milagre é olhar para dentro.

quarta-feira, janeiro 23

a dança em torno da rosa ou a satisfação, o luxo e a necessidade

















Se você casa consigo mesmo, uma coisa é certa: você nunca vai experimentar a separação. Nesse sentido, até mesmo o relacionamento com alguém passa a ser um luxo, e não uma necessidade. De repente, você está entrando em algo novo, por uma outra porta. É luxo. Puro deleite. Envolver-se com alguém pelo prazer daquela presença, daquele encontro... simplesmente por ser bom e nada mais. 

Você casa consigo mesmo quando há satisfação em si. E, saiba, não existe nada mais satisfatório do que auto-satisfazer-se. Agora, aqui, não se engane. O seu ego não pode satisfazê-lo, aliás, é ele quem propõe a insatisfação constante. A satisfação real nasce da realização que quem você é na sua mais tenra natureza.

Veja quem você é, de verdade, e veja do que você necessita. Agora. Não espere para depois. Se você realiza a sua natureza como a Consciência, o Todo indivisível, do que você viria a necessitar, se não há sequer uma fagulha de pó que exista fora de você?
Investigue e traga a Verdade à tona, com clareza. Uma criança precisa da sua mãe – ou de “uma” mãe, seja ela quem for –, até que ela não precise mais. Chega um momento em que as necessidades são superadas. Você precisa de um barco para atravessar o rio, até que – uma vez que esteja do outro lado do rio – você não precise mais do barco. Você não precisa carregá-lo nas costas, em terra firme.

O que acontece é que você tem olhado para si como aquele que precisa de uma mãe, de novo e de novo. A sua mãe, aquela que te gerou e limpou as suas fraldas já se foi e você fica em busca de uma outra ainda hoje, no auge dos seus 45 anos de idade. Ora! Veja o que você está buscando. Ou melhor, veja o que está lhe faltando e seja honesto com isso. O preenchimento de fora para dentro é superficial, qualquer ventinho pode desfazê-lo. É uma máscara. O buraco está lá, você o tapa, um vento bate, ele se abre, você remenda, aumenta o rombo, aumenta o sofrimento... Samsara. Isso não tem fim.

Com sorte, ou um pouco de inteligência e dedicação, você acaba desistindo de tapar os buracos, para de evitá-los e resolve olhar para dentro. Isso não significa que você não possa se relacionar, não há nenhum problema em compartilhar sua presença e partilhar da companhia de alguém com leveza, sem grandes exigências. Isso é muito bom. Aliás, é muito legal ser pacífico e ver que a paz nasce da aceitação. E uma vez que haja aceitação, inevitavelmente, haverá satisfação. À propósito, você já notou quantas abelhas dançam em torno de uma rosa satisfeita em si?

sexta-feira, janeiro 18

na luz, a luz
















Só o fato da sua atenção estar intencionalmente voltada para o que vamos conversar a respeito hoje, já é uma virtude. E é sobre isso que falaremos: para onde a sua atenção está voltada?

Tem um ditado popular que diz: “Quem planta vento, colhe tempestade”. Se você planta um minuto de Silêncio, está plantando uma intenção, um olhar em direção ao Silêncio que você é – e Silêncio há de ser colhido disso.

Na verdade, todos nós recebemos essa Atenção de graça e a oferecemos também de graça, alegremente. A minha intenção é recompor esse quadro para que possa ser compreendido que colocar a sua atenção inconscientemente em determinados lugares, pode gerar tempestades. Se a sua intenção é colher paz – que suponho que seja –, colocar a sua intenção no lugar certo é fundamental.

Nós, a humanidade, estamos perdidos. Sempre estivemos perdidos e continuaremos perdidos se não olharmos para o lugar certo.  Aqui, entenda certo como um ponto exato a ser compreendido, não estou me referindo ao “certo cristão”, carregado de culpa. Portanto, alinhe primeiro a compreensão a respeito de quem você é e permaneça voltado para Isso.

Aproveitando a deixa, cabe lembrar um outro dizer: “Onde há luz não há escuridão”. Na luz, o você, some. Experimente!

sábado, janeiro 5

no centro, você é o outro


As pessoas vivem por  setenta anos, ou por muitas vidas, sem saber o que é a vida. Eles não se tornam maduros, integrados, centrados. Permanecem na periferia. No entanto, todo o seu prejuízo está na periferia, onde você permanece teimosamente. E, de uma maneira esquizofrênica, você quer que a periferia mude e ela insiste em não mudar. É uma loucura! E a confusão permanece porque você não investiga: quem é a periferia? É você mesmo. Você pratica a periferia.

Agora, se você olha para dentro, imediatamente, é notável que o dentro não está interessado na periferia de maneira alguma. Não existe nenhuma intenção interna de mudar o periférico. É como se o periférico caísse numa categoria totalmente insubstancial para Aquilo que está dentro. Torna-se desinteressante. 

Se a sua periferia encontra com a periferia do outro, um conflito acontece. E a tendência é que, considerando o conflito como responsabilidade do outro, você permanece na periferia. Dando-se conta de que você é responsável pelo mundo a sua volta, o que quer que seja que aconteça, você é a causa. E essa é a única maneira de mudar-se da periferia para dentro. No fim, você só pode reclamar de si mesmo. E isso facilita muitas coisas. Porque não dá pra esperar do outro o seu bem estar.

Um homem chegou ao psiquiatra e disse: "Doutor, estou tendo incríveis questionamentos. Estou ouvindo vozes me perguntando coisas". Ao que o médico respondeu: "Até aí está tudo bem, isso acontece com todo mundo. Se você começar a respondê-las, aí sim, volte aqui que eu posso te ajudar".

Somente quando você se dá conta de ser o criador da sua miséria, é que se torna possível não continuar criando. Veja qual a fonte do mal estar e qual a fonte do bem estar e perceba qual delas você tem alimentado.

 

sexta-feira, janeiro 4

alegria inerente, infinitas possibilidades


Você se queixa de pensar repetidamente as bobagens que te causam sofrimento, sem se ocupar em acender a luz. O corpo-mente é um instrumento. Um instrumento de cheirar, provar, tocar, ver, ouvir e pensar coisas bacanas – não de pensar as bobagens que você, estando com a luz apagada, vem pensando.

Insistentemente, você tem acessado a velha programação. Geralmente são inúmeras as alternativas, mas com a luz apagada você não as vê. Acenda a luz e veja surgirem infinitas possibilidades. De repente, você passa a pensar e agir de maneira diferente, diante de circunstâncias aparentemente conhecidas. Nada se repete. Aliás, com a luz acesa, você tem até a possibilidade de não pensar nada. Pensar para quê? Só gasta, desgasta e não o leva a lugar nenhum. Veja como é simples. Experimente!

Diante da luz, os problemas não existem. Os problemas só existem no escuro. Com a luz acesa eles somem. Nesse instante, pare por um segundo e note: qual o pensamento que está ocorrendo agora? Dê-se conta da observação impessoal, totalmente desconectada de qualquer evento ou necessidade. Tem uma alegria inerente. Satisfação emerge dessa observação. Você é completo em si.

E chega o momento em que essa luz não se apaga mais. Hoje, talvez, você exerça um certo esforço para acender a luz. Mas, insistindo, enamorando-se pela beleza revelada sob a luz acesa, se tornará difícil – muito difícil – o apagar da luz. Não há mais escuridão. Nada está faltando. Agora você Vê e essa visão faz com que você se mova com tranquilidade.