segunda-feira, fevereiro 28

aqui-agora o que é?
















Já ouviu falar a respeito de ficar aqui e agora? Acredito que muitas vezes. Porque eu também ouvi. O que nunca me ocorreu antes, foi perguntar às pessoas que me faziam tal proposição, se elas ficavam. Eu tomava por certo que estavam falando de algo que entendiam. Mas hoje sei que praticamente todos que me disseram isso um dia, não tinham a menor ideia do que estavam falando – apenas repetiam o que haviam ouvido de um Mestre.

O que acontece é que o Mestre sabia do que estava falando, mas, como num telefone sem fio, a proposta inicial vai perdendo significância, até o ponto de não ter nada a ver com o que foi dito. Experimente brincar de “telefone sem fio” e entenderá o que estou apontando.

Mas antes disso, vamos tentar estabelecer um diálogo elucidativo sobre o aqui e agora. Desde que nasceu, até hoje, quanto por cento você tem ficado aqui e agora? Elabore uma percentagem entre zero e qualquer decimal ou centesimal que seja. Como quiser...

Participante – Eu diria que um centésimo.

Participante 2 – Creio que uns cinco por cento.

E você?

Participante 3 – Não sei. Tenho a impressão de que desde que me propus a estar aqui e agora, houve momentos em que eu não pretendia nada. E nesses instantes eu acho que senti mais a Presença do que em outros momentos de meditação, por exemplo. Acho que é uma coisa inusitada.

Vejo que você está tentando organizar algo discursivamente, mas não é nada disso. Tanto de um lado quanto do outro, está equivocado. Vamos em frente!

Elabore o que é aqui e o que é agora. Ouça bem e não interprete a minha proposta. Eu não tenho nenhum interesse em que você sinta algo. Não estamos tendo um papo terapêutico. Por favor, aqui você pode falar “eu penso”, “eu vejo”, “eu acho”, porque é tudo a mesma coisa. É um engano considerar que você está num espaço mais profundo por “sentir”. Isso já passou, e pode esquecer, porque não levou ninguém a lugar nenhum. Foi uma tentativa, teve a sua função. Mas não está mais tangível. A minha pergunta não é o que você sente, eu quero saber apenas o que é aqui e agora.

O que a sua mente pensa do aqui e agora? Não sei se você se dá conta, mas é por ter alguma tese a respeito disso, que ela diz que você tem ficado tantos por cento no aqui e agora. Dedique esse momento a examinar exatamente: o que é aqui e o que é agora?

Participante – Seria correto dizer que para estar aqui e agora, tenho que não estar aqui e agora, num certo sentido?

Seria. Mas não seria absoluto. Tem uma pequena correção. É uma percepção relativa, pode não determinar nada. Dá para olhar de outra maneira.

Participante – A noção que eu tenho é que estar aqui e agora é prestar atenção e catalogar mentalmente, como você falou, todas as sensações. Isso virou o aqui e agora para mim. Então, o único jeito de estar aqui e agora é se eu não estiver nesse aqui e agora.

Sua resposta é relativa, mas não é isso. É melhor e muito mais simples.

Apenas estou perguntando o que é aqui e o que é agora. E estou pedindo que olhe para a sua mente e veja o que ela diz. Porque este é o seu único obstáculo. É por conta do que a mente diz a respeito de tudo, que você não consegue vivenciar o que é, de fato, estar aqui e agora.

sexta-feira, fevereiro 25

os troianos e a canção da paz



















Não é porque todos o entendem que você vai encontrar Paz. É porque você entende, que você encontra Paz. É você quem vê como as coisas são e dá sentido a elas.

Eu o convido a seguir comigo. Se isso não for para você, seja honesto. E se for: fique quieto! Isso já é suficiente. Se você assumir que é Paz o que você quer, por trás de tudo que tem buscado, então estamos conversando.

Participante – Paz e Liberdade são a mesma coisa?

Sim. A mesma coisa.
                       
Participante – Eu vim aqui para compartilhar com amigos. Da mesma maneira que você comenta ter dificuldade em falar “a nossa língua”, eu tenho dificuldade em me comunicar com pessoas do meio em que vivo. Parece que nós não estamos falando a mesma língua. Agora, isso que você disse a respeito de eu entender as outras pessoas, ainda não tinha percebido... Eu me sentia isolado. É com pouquíssimas pessoas que consigo me comunicar.

Esqueça as outras pessoas e reúna-se com aqueles que o entendem. Se você quer manter essa chama acesa, junte-se às pessoas que estão ouvindo e compartilhando o mesmo. É exatamente isso que você tem de fazer. Ou você se reúne com as pessoas que compartilham o mesmo ponto de vista ou fica nesse drama: “Oh! Ninguém me entende!”

Pondere: o que está fazendo no meio dos gregos, se você é um troiano? Busque um lugar onde os troianos estejam e compartilhe a sua riqueza com os troianos. Cresça dentro disso! Troianos, aqui nesse contexto, são aqueles que estão “sonhando o mesmo sonho”, vendo o mesmo que você.

O que quero dizer, usando essa metáfora, é que esse núcleo deve manter a chama acesa. Compartilhar com pessoas que estejam tendo a mesma perspectiva é primordial. Você deve entrar nos ambientes (e não são muitos) onde seja compartilhada, sem sombra de dúvida, a mesma coisa. Na maioria dos ambientes onde se parece falar a mesma língua que estamos falando aqui, se prestar bem atenção, estão prorrogando. Na verdade, não estão falando a mesma língua. Parece, mas não é a mesma língua.

Reúna-se com aqueles que cantam a mesma canção que você está cantando.

quinta-feira, fevereiro 24

barco solto, idéia alheia




















Ouçam esse poema do Liquorman:

Você acredita que pode fazer uma diferença.
Você acredita que a sua dor é culpa sua.
Você acredita que pode fazer melhor.
Você acredita que é responsável.
Você acredita em todo o tipo de merda. 
Ram Tzu sabe isso:
Quando Deus quer que você faça algo,
você acredita que é a sua própria ideia.

Como seria se pudéssemos olhar para a vida e os seus acontecimentos, não como fazedores, não como responsáveis, mas, de verdade - vou usar uma palavra aqui que é totalmente imprópria psicologicamente  para as pessoas saudáveis e estabelecidas no sistema, mas entenda-me como puder -, como totalmente irresponsáveis?

Você não faz as coisas, as coisas acontecem! É claro que se pudesse, você faria melhor. Eu não tenho dúvida disso. Eu sei que você não magoaria ninguém, não faria nada errado... mas como?

Tem uma história que ilustra perfeitamente o que estamos abordando. Imagine essa cena: Um barco, com vinte assentos, vinte pessoas dentro. Cada assento tem um timão e cada pessoa está dirigindo o barco como seu timão. Está tudo indo bem, o barco desce o rio, e todos dirigem na mesma direção. Eis que surge uma curva para a direita, e todos giram o timão para a direita, e o barco segue. Cada um vai tendo a nítida sensação interna de poder, de controle, de determinação, de direcionamento, enfim... O barco vai para a esquerda, e todos seguem o mesmo impulso, virando para a esquerda, e aquela sensação de realização cresce. Porém, há vinte curvas para baixo, surge uma bifurcação e fica aquele impasse: você e mais uma meia dúzia põem o timão para a direita, e o barco vai para a esquerda. E você fica ali, sentado, numa grande crise existencial, porque fez tudo certo, e vinha dando tudo tão certo... e agora você chegou nessa bifurcação, fez o movimento na direção em queria que o barco fosse, e o barco não obedeceu. E não se dá conta de que o timão que você está segurando, não dirige absolutamente nada. Ele está solto. Há uma outra força movendo o barco.

Participante - Isso me faz lembrar os carrinhos dos parques de diversão...

Mas é isso mesmo! É um grande parque de diversão - era isso o que eu queria dizer. Nós estamos num parque de diversão. Você paga, mas não tem nenhum controle sobre aonde vai parar no instante seguinte.


O timão está solto, ele não está ligado à coisa alguma, ele está ligado apenas a você e à ideia de que você tem controle sobre ele e, consequentemente, sobre o movimento do barco. “Você acredita em todo o tipo de merda e Ram Tzu sabe isso: quando Deus quer que você faça algo, você acredita que é a sua própria idéia”.

quarta-feira, fevereiro 23

em chamas: a transmissão silenciosa





















Se tiver coragem de olhar para o que Satsang aponta, uma série de conceitos que estão condicionados na sua mente como sendo realidade, começarão a sofrer um desmantelo. Satsang é a matança dos conceitos. Se o coito não for interrompido, você vai até o fim. Mas, se você não chega ao fim, mantendo as suas prioridades intactas, o coito será interrompido.

Somente se você se entrega, o Mestre poderá devorá-lo. Na entrega, o Mestre faz você sumir - você some dentro dele. Isso não tem nada a ver com o que você está pensando, tem a ver com se entregar ao momento e sumir no momento, até chegar a um ponto em que você olha para o Mestre e vê que não existe Mestre nenhum.

No entanto, até que isso aconteça, não pense que já aconteceu, nem que esteja acontecendo. Primeiro porque eu nem Mestre sou, estou aprendendo. E segundo porque você também está aprendendo a ser discípulo, você ainda não é. Essa relação, na nossa cultura, é absolutamente incompreendida. Mas talvez seja a relação mais íntima, mais amorosa que possa acontecer entre “dois seres humanos”. Essa é a mais sublime das relações.

Se você ficar perto, irei questioná-lo cada vez que você abrir a boca. Até que aprenda a não mais abrir a boca. É aí que começa a transmissão, a transmissão silenciosa. Agora você sabe que nada do que você possa dizer vale a pena. Se essa entrega acontecer, é porque você entendeu que aquilo que você pensa que é, é vagamente tenebroso, é vagamente indesejável, é nefasto.

Satsang é um convite para pôr você em chamas. Pode ser prazeroso ou pode ser doloroso. Depende de como você vai confrontar a Verdade. Se você confronta com maturidade, é prazeroso. Se você confronta com imaturidade, é doloroso. Eu não desejo a ninguém, encontrar Satsang com imaturidade, porque será uma discussão infindável.

Ao aproximar-se, saiba que aquilo que você é, não será construído através de Satsang; mas aquilo que você não é, será destruído através de Satsang.

terça-feira, fevereiro 22

aqui, lá e em todo o lugar


















O tempo dilapida aquilo que você fica construindo enquanto o Agora acontece. Não digo para não construir. Construa! Mas faça isso da maneira mais desperta possível. Acorde. 

 Tudo aquilo que você faz com o intuito de chegar a algum lugar é a Paz que você está buscando, se você compreende que aquilo que você busca está aqui e agora, você para de fazer para chegar no que quer que seja.

Nada pode ser feito para encontrar Paz, porque a Paz já está aqui e agora. Simplesmente assuma essa responsabilidade! Mas você insiste em brincar com os castelos de areia. Ok! Brinque! Monte a sua casinha, mas saiba que tudo o que é montado, será desmontado.

Na Índia, existe uma tríade: Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma cria. Vishnu mantém - é a dona-de-casa que tem dentro de cada um de nós. E Shiva vai lá e destrói tudo. Afinal de contas, se não for assim, Brahma não tem mais o que fazer. Essa dialética, esse movimento circular, essa oscilação, é a vida. Na Índia costuma-se devotar inúmeras preces a Shiva. Porque, assumindo que as coisas serão destruídas, quando elas de fato forem, você entrega isso a uma deidade que diz: “Yes! Estão querendo me dar algo novo”.

Ao invés de chorar o que está sendo destruído, celebre a destruição do velho e entregue-se ao novo. Ao invés do apego ao velho, deleite-se no novo.

 O que você quer, de verdade? Eu retorno de novo a esse ponto. O que você quer? Veja se todos os seus quereres não estão direcionados à Paz que você vislumbra estar na realização deles. Veja se você não está em busca de um amor, para que, através desse amor, possa viver em paz. Então, Paz é o que você quer.

No entanto, indo mais fundo, quando encontra a Paz dentro de si, a celebração do amor, da casa, do trabalho, do bem-estar ou do que quer que seja, é uma festa. Você não mais transfere o encontro da sua Paz para o outro, nem para nenhuma outra coisa. Você assume a responsabilidade pela sua própria Paz.

Esteja com o outro apenas compartilhando o bem-estar do momento. É uma brincadeira! Faça da sua casa o seu playground. Aprecie, cuide, mas isso não tem nada a ver com a sua Paz. Ao sair de casa, a Paz vai com você. Já está lá e em todo o lugar. 

segunda-feira, fevereiro 21

silence is the answer


















Participante — Então, o Silêncio é a resposta para tudo?

Este é um dos axiomas do Osho: “Silêncio é a resposta”.

Participante — E por que fazer a pergunta “Quem sou eu?”, então?

Para saber que você é o Silêncio.

Participante — Mas, como vou ficar totalmente em silêncio, se a minha mente...

Você não vai ficar totalmente em silêncio. Você não sabe quem você é, e é por isso que faz essa pergunta. A primeira coisa básica é saber quem somos. Quando você souber quem você é, muitas das perguntas que está fazendo serão irrelevantes. Você vai saber que não fazem sentido, porque você é Silêncio, e Silêncio é singular. Não existem dois Silêncios porque o Silêncio não pode ser medido, ele é imensurável. Silêncio é tudo o que existe. Silêncio é outro nome do seu Ser os ruídos, definitivamente, são plurais. Mas existem Silêncios distintos? Não. Remover o mal-entendido nos leva diretamente ao Silêncio.

No momento em que começar a compreender e as fichas começarem a cair, você irá direto para o Silêncio. O Silêncio é inerente, ele está esperando que você atente para ele.

Os Budas já disseram com total autoridade que você não é o seu corpo e não é a sua mente  é a mais pura Verdade. Você busca porque a própria Essência quer que você busque, senão, você não estaria buscando, estaria fazendo alguma outra coisa. Mas está na hora de ver se você é isso que você pensa que é. Veja se você é esse corpo, veja se você é a sua mente. Quem é você? Esta é a coisa mais importante.

Tem uma fala do Osho que acho magnânima. Ele diz: “Enquanto você não souber quem você é, tudo o que faz na vida é fútil”. Você parte de uma premissa ilusória, baseado numa estrutura que é inexistente. Como chegar à sua realização, tendo como princípio algo que não existe? Como pode sair de Belo Horizonte e chegar em Porto Alegre, se está em São Francisco? Entenda que você não pode partir de um ponto onde não esteja, para chegar a um outro ponto qualquer.

Na realidade do Ser, você não está em ponto algum e não há outro ponto a chegar. O ponto já é aqui e agora e você já é aquilo que você está buscando. Nesse sentido, o que quer que seja delineado como busca é errôneo, vai levá-lo a algum outro lugar. Na busca de si, você se divide em dois. Mas quem estaria buscando a si? O que você tem buscado é uma ideia de si. Você tem um ideal, tem metas de iluminação. Mas, se você já é aquilo que está buscando, não precisa mais buscar. 

sexta-feira, fevereiro 18

no infinito, o outono dos conceitos


















A verdade liberta e nos dá muito espaço. Eu insisto: aqui e agora é infinito, não importa o que sua mente tente vender como realidade. O aqui e agora é infinito e não existe nada fora dele. O infinito está dentro. E, ao mesmo tempo, se não existe fora, consequentemente, não há razão da palavra "dentro" existir. Estamos em um ambiente totalmente desconhecido, onde os parâmetros da mente estão se apagando. A partir daqui, começa a ficar mais misterioso o existir. Junto com o mistério, fica também muito mais divertido, para qualquer lado que você olhe. Não tem escape.

Participante – Satya, de uma certa forma, notar que o aqui e agora é infinito, me deu uma sensação de poder. De repente, é como se me sentisse mais poderosa.

Liberdade é isso. Ninguém escraviza alguém que seja livre. Ninguém escraviza a liberdade. Na verdade, ninguém jamais escravizou a liberdade, mas a confusão era tanta que você se sentia aprisionada no corpo, na mente, nas ideias. Os mal-entendidos foram tantos, que criaram essa falsa realidade. Mas é apenas uma ideia, que pode ser experimentada como um sonho, como não-realidade. Esse é o meu único propósito aqui.

Exponha o que tem carregado como sendo verdade e investigue se é isso mesmo. Conceito a conceito, veja a sua aplicação até dar-se conta da inexatidão de todos eles. E, obviamente, por serem inexatos, não nos ajudam. Não nos libertam.

Teste! Prove! Aplique cada conceito assumido como realidade e veja se é possível continuar vestindo a mentira ou se pode começar a deixá-los desaparecer – porque, sem aplicação, eles perdem o sentido. Mas, fique atento! Os conceitos são muito insistentes e estão sendo reforçados a todo instante. Aliás, eles viveram por tanto tempo encostados sobre você, que não é assim tão fácil irem embora. Mas este não precisa ser um movimento brusco. Aos poucos, repouse no Silêncio que você é, e veja que eles vão se despegando por si.

quinta-feira, fevereiro 17

a neblina e o himalaia

















Possivelmente você não esteja vendo, talvez haja uma neblina. Mas, quando a neblina sai, lá está o Himalaia. Quando vem a neblina de novo, você duvida que o Himalaia esteja lá, até que ela saia e ele seja visto novamente. A neblina é a mente, deixe-a fazer isso por quantas vezes ela quiser. Apenas lembre de uma coisa: o Himalaia está lá, quer você veja ou não.

Você é Iluminação, quer saiba ou não, porque essa é a sua natureza. Simplesmente entenda. E isso  não pode ser possuído por você, da mesma maneira que uma gota não pode conter o oceano. . Ao contrário, é isso que o possui. Portanto, é muito mais simples a gota se entregar  – somente na entrega, ela deixa de ser gota. Mas você teme a respeito do que virá a acontecer se você não for mais uma gota. Eu respondo: nada irá acontecer. Você apenas não terá mais a ilusão de ser uma gota. E é aí que mora a suprema liberdade.

A mitologia diz que uma vez dissolvido, talvez você não tenha mais vontade de viver nesse corpo. Mas você não vive nesse corpo – essa é a ilusão da história –, é esse corpo que vive em você. Essa é uma brincadeira da Existência para compreender a si mesma, para ver a si mesma. A mente questiona tudo isso porque acha que a realização da Essência tem uma forma, uma cara, uma estrutura. A mente pensa que, realizando a Essência, você tem que se comportar de uma determinada maneira, totalmente baseada no que você leu em algum lugar. Esse é um grande problema. Você está sempre comparando o momento presente com a realidade de outros tempos.

A natureza do Ser é Silêncio, Paz. Possivelmente você já teve um vislumbre disso, é algo que não está, absolutamente, sob o nosso controle. É um grande mal-entendido achar que de alguma forma podemos ter controle sobre o que acontece. Nada está sob o nosso controle. Nossa natureza é Silêncio. Mas você tem esperado por um livro que virá com uma palavra-chave, que o fará entender em totalidade. Acontece que não tem nada para ser entendido. Quantos livros você já comprou e colocou na prateleira da sua casa? E quantos deles leu sem compreender? Não tem nenhuma palavra que possa transmitir diretamente e em totalidade. As palavras podem apenas apontar. O importante é a sua capacidade de entender o simples.

E, ainda, mais profundamente, não se trata de um entendimento. Estamos falando da sua natureza, não há necessidade de fazer nada. Quando a neblina sai, lá está o Himalaia.

quarta-feira, fevereiro 16

a morte, o mar e castelos de areia
















Bom dia!

Por pura curiosidade, eu gostaria de saber por que quando é dito para vocês fecharem os olhos, vocês se aquietam e quando é dito para abrirem os olhos, imediatamente vocês começam a se mexer incessantemente? Só foi dito: “Abra os olhos”. Não foi dito: “Abra os olhos e comece a se mexer”. É incrível! Vocês começam a se coçar, a se arrumar na cadeira... O que é isso?

Participante – Eu estou inquieta. Estou muito inquieta.

Você está muito inquieta? Hum... Ok. E ao fazer essa afirmação, você está fazendo vista-grossa para quem você é, ou não?

Participante – Sim.

Qual é a inquietação da sua mente nesse momento?

Participante – Desde ontem, tenho tido sensações estranhas que começaram a partir da meditação. Me veio muito forte que até então eu estava ouvindo com a cabeça. Enquanto estava fazendo a meditação, mudou a forma de como eu estava ouvindo a música, e me despertou algo que parece ser mais ao nível de coração. É como se eu parasse de ouvir e desse um click no escutar. Essa foi uma percepção do meu corpo-mente e, depois disso, o Satsang de ontem foi muito forte para mim. Agora, realmente começaram a surgir algumas inquietações. À noite, vi o filme e antes de dormir me veio um pensamento e quando penso em alguma coisa, costumo anotar. Me ocorre que tenho que investigar isso aqui e eu anotei e queria que você me ajudasse. O que escrevi foi: “Se a existência é um jogo, a diferença é que: se eu penso que jogo, estou sendo jogado e se sei que estou sendo jogado, eu jogo”.

Isso é liberdade!

Participante – E tem mais... Antes de dormir, me veio também aquela frase, que até então eu tentava compreender, mas tinha dificuldade. A frase é: “O homem não morre duas vezes”. Registrei isso e fui dormir. Durante a noite, tive um sonho onde eu escrevia para alguém - não sei para quem -, e tinha um trecho onde eu colocava: “Quem está perto não está longe”. E quando acordei, me veio um ponto e a imagem da cruz. Junto com essa imagem, um outro pensamento: “O horizontal e o vertical no centro”. E mais: “O ponto de encontro”. Daí, escrevi também: “O ponto de encontro é o ponto de mutação onde tudo deixa de ser, mas sempre foi”. E depois surgiu outro pensamento, a respeito da escolha: “A questão do Dharma e do Karma surge. Um não exclui o outro. O Dharma como verdade não muda o Karma, que sabe que é mentira”. E no final, levantando para tomar banho, me veio mais isso: “Sinto a destruição de uma casa construída na areia para a construção de outra com a base sólida”.

Isso é confortável? É reconfortante?

Participante – Me parece que eu quero te dizer para cortar a minha cabeça. Está tudo mutilado.

Está sendo cortada.

Participante – Veio durante a meditação e tem vindo muito forte o aspecto de Jesus. Me vem que ele temeu a morte.

Sim. Agora, me diga: quem está confrontando a morte?

Participante – Eu.

E quem é você? Como algo que não é você pode morrer? Olha para esse medo e vê de onde ele nasce, veja se ele nasce de um espaço de realização ou de ignorância.

Participante – De ignorância.

São castelos na areia. Fico feliz que você note. É isso que Jesus simboliza para você. Mais cedo ou mais tarde, você tem de enfrentar a morte e confiar. Pondere: se você viveu 20 ou 30 anos confidente de ser esse corpo, é claro que fará o que for possível para que ele não morra. Mas a grande pergunta é: você é o seu corpo? Será que aquilo que você é, pode ser removido pela morte do corpo? Ou será que o que você realmente é, permanece mesmo com a morte do corpo?

Não importam as alegorias. Se você tem uma, investigue e veja: alegorias também são castelos de areia. Para você ser capaz de morrer enquanto alguma coisa, você tem que ser essa “alguma coisa” e se descobre que essa alguma coisa é apenas uma aparição que podemos tocar, medir, pesar... e, que, por ter nascido um dia, está fadada à morte, dentro dessa investigação é possível verificar: quem é que consegue ver essa aparição?

Participante – O Ser.

Isso! E o Ser pode ser visto, medido, pesado ou comprimido em algum espaço? Não. Portanto, como pode matá-lo? O Ser não nasce e não morre. Essa é a sua verdade. Ou você casa com ela de uma vez por todas ou continua sonhando com os seus castelos de areia.

segunda-feira, fevereiro 14

a boca e o infinito


















Você está sempre girando dentro da sua mente. Note que tudo é conteúdo dela. Você diz que a Consciência que faz isso ou aquilo, mas isso também é a mente falando. A Consciência está rindo do que você fala a respeito dela. Se pudesse acessá-la, você a ouviria dizendo: "Cale a boca!" Aliás, muitos mestres dizem: "Cala a boca e escuta!" Escute o Silêncio. No Silêncio, nada do que a mente está dizendo, está acontecendo. Não é à toa que você não consegue resolver os problemas que a sua mente propõe que estejam acontecendo, porque eles, de fato, não estão acontecendo. Se estivessem, haveria uma solução.

Mas o equívoco é tão grande que a mente diz estar ocorrendo um monte de coisas e você tenta resolver todos esses problemas que não têm solução. As pessoas morrem sem solucionar seus problemas, porque os problemas não têm substância nenhuma. Não há problema!

Se começa a ver que talvez seja a sua mente que cria os problemas - e só você pode verificar isso -, nós estamos num bom caminho. Porque, a partir daí, existe uma grande possibilidade de que você comece a recorrer àquele "espaço" onde um copo não é um copo, onde você não é a sua mente. A sua mente diz o que as coisas são. Mas são mesmo? Você tem certeza disso? Se não tem certeza, o melhor a fazer, é fazer nada. Ou aceite o convite à investigação.

A "tese" é que o aqui e agora é infinito. Não existe maneira de sair, nem existe fora do aqui e agora. Mesmo quando você pensa. Ou melhor: mesmo quando a mente pensa. A mente pensa aqui e agora. Sem o aqui e agora não existe absolutamente nada. Portanto, dizer, aqui e agora, que você não está aqui e agora, é um absurdo, não faz o menor sentido. Assumir isso é repetir um monte de crenças, material não examinado, inconscientemente. Quando diz isso, você está falando porque tem boca - e a maioria das pessoas, falam porque têm boca -, é uma confusão. Por isso, agora e sempre: cale a boca e veja!

sexta-feira, fevereiro 11

a flor pensada e o tesouro






















 A proposta de Satsang é fazer nada. Portanto, se tem algum condicionamento que o mantém envolvido no tempo e nas metas, este ambiente é extremamente prejudicial a você. Através de Satsang não é possível conseguir nada.

Satsang pede que você entregue tudo o que tem. E essa proposição, por incrível que pareça, é de fácil alcance. Afinal, o que é que você tem de verdade? Observe! Todo o seu tesouro não passa de um acervo de ideias não investigadas. É muito raro saber quem somos. Costuma-se apenas pensar que se sabe. Então, largue de mão todo o conteúdo pensado. Ver e pensar são duas coisas diferentes.

Olhando para um copo, por exemplo, o tempo entre o ver e o pensar é tão exíguo, que você nem nota que está pensando que está vendo um copo. Mas, de fato, o que você está vendo não é um copo. Copo é o que a sua mente diz que você está vendo.

É crítico! Muita atenção deve ser invocada para verificar que o que você pensa é distinto daquilo que vê. Vivemos sob uma espécie de cegueira. Mal seus olhos batem em algo e, imediatamente, você “sabe” o que é. Mas, você não sabe. Diante de uma flor, você não está vendo uma flor. Você está apenas pensando que está vendo uma flor.

A mesma equação devemos aplicar a quem somos. O seu principal intuito deve ser questionar-se a respeito de si mesmo. Quem é você? Ou, se preferir, o que é você?

quarta-feira, fevereiro 9

sim, sim, sim. sagrado, profano.
















Quando você olha para a vida, para as suas relações, para a sua situação financeira... o que você quer? Você quer um relacionamento que nunca mais acabe? Quer uma saúde que não oscile? Quer mais dinheiro? Quer um bom emprego? Quer uma casa? Diga a primeira coisa que lhe vem.

PARTICIPANTE – Satyaprem, a primeira coisa que me veio à cabeça quando você fez essa pergunta foi: por que eu não consigo celebrar com a vida? Isso é o que me ocorre. Eu vejo as coisas acontecendo e eu dizendo: “Isso não está correto. Isso não é assim...” Eu gostaria muito de enxergar, com esse brilho que você fala, essa aceitação total de que realmente a vida é do jeito que é. Também me dou conta de que estou vindo aqui querendo pegar algo, e isso me assustou.

Você quer o brilho que eu digo que a vida tem?

PARTICIPANTE – Eu levo tudo muito a sério.

O que você vê, exatamente?

PARTICIPANTE – Eu vejo coisas que eu não posso controlar e eu não aceito isso ainda. Eu ainda acho que tenho que controlar alguma coisa.

Vamos devagar! Você poderia dizer neste momento, para si mesma, que é ok, ser assim como você é?

PARTICIPANTE – Com certeza.

Você pode ficar brigando com a vida?

PARTICIPANTE – Não.

É muito sutil. Veja! Eu estou propondo um diálogo mínimo com você. Não estou fazendo exigência nenhuma. Apenas o convido a celebrar a vida como ela é. Estou lhe convidando a aceitar o fato de que você não celebra a vida, mas você não quer. Se você aceitar que você é “assim ou assado”, você simplesmente é “assim ou assado” – e pronto. O que está lhe faltando? É muito sutil e por isso você não nota.

A minha pergunta é simples: daria para você dizer ok para si mesmo, neste momento, do jeito que você é? Quem é que está exigindo de você, que você celebre a vida? Quem é que está exigindo isso?

PARTICIPANTE – Não sei, talvez a mente.

Não, respostas prontas não.

Jogue tudo fora! Esqueça tudo o que você ouviu antes. Vamos começar tudo de novo. Você tem que aprender a começar tudo de novo em todos os momentos. Não existem respostas prontas.  Esqueça todo o blá, blá, blá... O passado não está aqui. Minha pergunta é simples: quem é que está exigindo de você que você seja celebrativa? Não imagine! Simplesmente olhe e veja.

PARTICIPANTE – Eu não encontro uma resposta.

Isso porque não tem uma resposta. Então eu pergunto: dá para ser simplesmente do jeito que está sendo agora?

PARTICIPANTE – Sim

Agora, “simplesmente imagine” (entre aspas) que você está dando “ok” para ser uma pessoa que está brigando com a vida.

PARTICIPANTE – Aí tudo se torna uma piada. [SORRINDO]

Este é o “sim” que eu estou lhe convidando a dar. Este é o “sim”, um simples “sim”. Veja! O que você está precisando agora?

PARTICIPANTE – Absolutamente nada.

Quando digo para você celebrar a vida, estou dizendo para você celebrar este momento. Veja como é fantástico! O que está acontecendo com você?

PARTICIPANTE – Celebração.

E não levou muito tempo... Você, sentado aí do lado, pode não estar acreditando, mas é só porque você está pensando na sua própria besteira. Olhe e veja você também!

terça-feira, fevereiro 8

a realidade do sonho












Eu não posso exigir esse entendimento, mas veja se ele pode nascer dentro de você. Se entender que dentro do seu sonho você não apenas pode, mas deve morrer, estamos prontos para conversar.

A morte que ocorre dentro do sonho, é a morte do sonho dentro do sonho. Em Satsang, você está trocando uma coisa que é absolutamente sua – o "eu" –, por uma coisa que não é sua: Aquilo que você é de verdade. Ao ver isso, você convida a morte, porque a morte, enquanto ilusão, só acontece para aquele que existe ilusoriamente como sendo você.

Em realidade, não tem nem aquele que morre nem a morte em si. Portanto, da próxima vez que, no sonho, o perigo ocorrer, lembre-se que o perigo é o Mestre – ele o convida a confrontar aquilo que mais o perpetua como sendo você, no nível da ilusão. E se isso que você pensa que é, sucumbir a alguma coisa, você está fugindo do inevitável.

Dia após dia, você foge de alguma coisa que o amedronta. Toda a lógica do planeta, da civilização, dos seres humanos, é fugir daquilo que os amedrontam. Dê-se conta de que, ao invés de correr, você deve ir na direção daquilo que o amedronta. Essa disciplina tem que nascer no seu coração. Trata-se apenas de uma questão de confiança. Eu não estou aqui como prova, mas como uma evidência. Isso é algo improvável, eu não tenho como provar nada. É algo que você vai ter que olhar com  inteligência, debaixo das camadas de mentiras que foram colocadas sobre você.

Entregar-se significa procurar esse que você é, a qualquer preço. Procure e encontre. Fique com aquilo que você encontrar, mesmo que o nome daquilo que você encontre seja amedrontador à você. Busque embaixo de tudo: embaixo de uma sensação, embaixo de um pensamento, embaixo de um sentimento... e veja o que é que está embaixo de tudo isso. O que é que faz com que tudo isso aconteça? Todas essas coisas não “são”, elas apenas “estão”. Logo, com o tempo, deixarão de estar. Apenas uma coisa fica e só pode ser experienciada diretamente. Isso é você!

sexta-feira, fevereiro 4

passam as nuvens e o céu, azul















A proposta de Satsang é simplesmente aquietar-se. Seja um observador - existe uma alegria tremenda em observar. Isso é essencialmente a sua natureza, a descoberta de que você está livre dos acontecimentos. Nenhum acontecimento é necessário, tão pouco ir nessa ou naquela direção vem a ser necessário para que a sua alegria seja manifestada. Aquilo que você é, é independente, é intocável. Está tudo certo, quer o céu esteja cheio de nuvens ou não. Todas as nuvens são passageiras. Todas!

Saber que as nuvens vão passar, me impede de fazer qualquer coisa para que elas passem. Quando há nuvens: goze aquele momento nebuloso. Porque logo depois teremos um ambiente límpido. Se você goza o nebuloso, se torna capaz de gozar intensamente o límpido. E, da mesma forma, se goza o límpido, pode gozar o nebuloso. Essa é sua natureza.

Mas a mente diz: "Nebuloso não! Só quero o límpido" - contrariando todos os fatos. E é em contrariar a natureza das coisas que tornamos o nosso ambiente ainda mais nebuloso. Aqui, falo de um nebuloso não-natural, um ruído sintético. Mas existe um nebuloso que é lindo e esse outro nebuloso que é feio. O parâmetro está na beleza. Beleza é Verdade. Beleza é Consciência. A inconsciência é feia.

Olhar para dentro é disciplinar-se, ao ponto de não se envolver com os acontecimentos externos. Isso não quer dizer que você não deva vê-los, ouvi-los ou senti-los. Sinta-os! Veja-os! - até porque não tem como não sentir - Mas eles não têm nenhuma significância. Permita que os acontecimentos venham e passem por você com total consciência. Não proponho nenhuma repressão ou negação. Há apenas presença consciente.

Claro que, devido à repressão de milhares de anos, coisas muito feias irão passar. Mas não julgue, não se envolva. Deixe o que quer que seja vir e passar. Você permanece incólume. Assuma a sua natureza. E a sua natureza é nada mais que observação. Você não é quem você pensa que é – e isso já está resolvido.

Apenas sente e observe: quantas palavras já vieram e foram? Quantas sensações já vieram e foram? Quantas questões já vieram e foram? Nenhum interesse deve ser dado a isso que vai. Se chegou até aqui, o seu interesse deve ser dado ao que está por trás de todos os acontecimentos, aquilo que vê todas as coisas passando. Somente Isso não passa e tão pouco é uma coisa.

Esse é o segredo que estamos compartilhando. Você não consegue se encontrar porque você já é aquilo que você está buscando. E não tem como não sê-lo. Pare. Aquiete-se. E veja! Observação gera a alegria de ver o segredo aberto exatamente aqui, exatamente agora.